terça-feira, 23 de novembro de 2010

R.I.P list

É aos trancos e barrancos que me deixo dizer qualquer coisa agora. Mas há uma lista de descanses-em-paz em enjoy the silence que me faz lembrar que para algumas pessoas, pessoas simplesmente morrem. Me faz pensar em todas essas almas mortas que, assim como o livro, rodeiam nossos quartos e nossos corpos, incompletas. Isso é tudo o que consigo no auge da minha fé maltratada, pra afastar a igualmente real possibilidade de todas aquelas pessoas estarem distribuídas em embalagens anti-impacto e plástico multi-uso. Porque tudo o que se desfaz aqui nesse mundo, vira polietileno.
Mas vamos para o céu quando formos clorofluorcarbono, façamos nossas orações, enquanto dura o intervalo da novela e se a publicidade não for atraente, as crianças ficarão bem quando a sanidade for parte do caráter delas, não mais um espetáculo reservado aos vizinhos e aos amigos da família, tragam-nas pra perto dos seus pais e corte-as ao meio durante litígio. Em outro canal eu acredito que os deuses eram astronautas e na minha estante os santos são vagabundos. santo, santo, santo, santo, santo, santo, santo, santo Antônio, santa Rita, santo seu menino, santo seu zé, santo Hitler, santo Ginsberg, santo Eu, santo. Pornografia, santa, telefonia, santa, santos cabos de fibra-ótica, santas linhas de expressão, santa, corrente sanguínea, santa, santo controle remoto, disco voador, pedra de calçamento. Oh, Senhor, guie-me sobre teu caminho para que eu não tenha que ser o culpado pelos meus próprios atos, quando eu errar, Senhor, que seja para cumprir teu plano divino, quando eu matar, que aproxime o infiel de Ti, quando eu bater, que seja com o coração cheio do espírito santo, não me deixeis cair em tentação sem proteger-me dos olhos e da línguas alheias e ajude-me a alcançar tudo aquilo que todos querem mas não há o suficiente no mercado, proteja-me daqueles cujas vidas eu ajudo a manter miseráveis, aqui enquanto durmo, proteja minha família e todos meus entes queridos e minha conta bancária, amém. Onde você está agora, amor? Onde você esteve e onde você estará daqui em diante, quem são eles, que é ela, o que é isso, de quem, de quem é você? Quem vai morrer primeiro, amor? Você me poria na lista, faria uma oração por mim, você evitaria repensar seu relacionamento com um peso morto de vintequatrovezessejurosnocartão? A gente sobrevive até lá. Se continuarmos adquirindo nossas vidas em parcelas ao longo dos anos. Pagar é viver. Continuemos nutrindo nossas insatisfações, porque aquele que não deseja é aquele que não existe. Venhamos, venham todos, toquem, experimentem, sintam entre seus dedos, subindo às suas cabeças, enchendo seus estômagos e preenchendo seus vazios, esquentando suas camas, afastando todo incômodo e inconveniente, o prazer e o alívio são imediatos, a última solução, é isso ou um tiro na testa, não se pode pôr preços em sonhos, nem se deve limitar nossas vontades. Vamos, Toquem, vistam, sintam o peso da falta de sentido das suas próprias almas inquietas, não se sabe o dia de amanhã, por que não ter tudo hoje? É tudo livre, é tudo seu, eu sou apenas um facilitador entre você e tudo o que você merece, por que pensar sobre o que é tão óbvio quanto a própria necessidade? Vá para casa, tome um veneno de brinde e de graça, é a nossa forma de dizer obrigado e volte sempre. E eu voltei-me para minha alma incompleta, a preço de uma ligação inter urbana;
- Olá
- Alô
- Eu não sinto você aí dentro.
- Eu não sinto as pessoas aí fora.
- ...
- Não há muito mais o que fazer.
- Eu sei.
E desligo, caminho vagaroso por entre as portas dos apartamentos, cara de domingo mas talvez seja só uma preocupação com o amanhã. O corpo dela é tão bonito. E esses acordes, ah, eu gosto desses acordes logo de manhã, desses acordes e das passagens entre-dentro-sobre, só que eu não sei tocá-las, nem ela nem as passagens. É tudo muito mistério nessas águas onde eu acabo e tudo-mais começa. Navegar esse mar é talvez mais do que preciso, porque já está na hora de viver - uno poquito más bonito.

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