segunda-feira, 14 de março de 2011

Como se houvessem paredes

Por entre flashes de luz e sombra eu brinco de imaginar o que alguém veria no meu quarto agora, ou o que eu veria de relance no espelho. E brincar de imaginar é tudo que faço por querer. Porque não é por vontade nem falta dela que alguma coisa que eu ainda chamo de espírito dança aqui por entre essas quatro paredes, ao lado, por cima e embaixo dessa cama, dentro dessa escuridão, fugindo desses flashes, espalhando inutilmente essas infinitamente densas sombras. Eu sei para quê fechamos os olhos.

Então dance como se não soubesse, seja lá o que for, como se eu não me importasse.

Mas brincar de imaginar é tudo o que posso fazer, porque por mais que minha pele esteja cobrindo muito mais que meu corpo, eu não sinto o toque de nada além de um vento sem direção e de uma música que se espalha sem fonte, sem limite, sem um corpo. E eu sei porque apagamos a luz.

Então suba pelas paredes, sem forma, como se houvessem paredes.

Eu já tive medo do que nos acompanha quando nos perdemos sozinhos. Eu já tive medo de me perder. Tudo é tão despreparado para não ter um par que parecemos - e digo isso na mais absoluta incerteza que teimo em dar a tudo - nos dividir, quando, num quarto escuro, parecemos poder ir ao ponto final do universo carregando a desesperadora certeza de jamais ver outra pessoa senão insuportaveis pedaços de nós emanados de nossas, digamos, auras.

Então eu sei para quê ouvimos nossa própria respiração.

2 comentários:

  1. bonito de um hermetismo que a gente não entende, mas sabe que gostou. =)

    ResponderExcluir
  2. Talvez seja exatamente sobre o que se acha q é. =)

    ResponderExcluir