Por entre flashes de luz e sombra eu brinco de imaginar o que alguém veria no meu quarto agora, ou o que eu veria de relance no espelho. E brincar de imaginar é tudo que faço por querer. Porque não é por vontade nem falta dela que alguma coisa que eu ainda chamo de espírito dança aqui por entre essas quatro paredes, ao lado, por cima e embaixo dessa cama, dentro dessa escuridão, fugindo desses flashes, espalhando inutilmente essas infinitamente densas sombras. Eu sei para quê fechamos os olhos.
Então dance como se não soubesse, seja lá o que for, como se eu não me importasse.
Mas brincar de imaginar é tudo o que posso fazer, porque por mais que minha pele esteja cobrindo muito mais que meu corpo, eu não sinto o toque de nada além de um vento sem direção e de uma música que se espalha sem fonte, sem limite, sem um corpo. E eu sei porque apagamos a luz.
Então suba pelas paredes, sem forma, como se houvessem paredes.
Eu já tive medo do que nos acompanha quando nos perdemos sozinhos. Eu já tive medo de me perder. Tudo é tão despreparado para não ter um par que parecemos - e digo isso na mais absoluta incerteza que teimo em dar a tudo - nos dividir, quando, num quarto escuro, parecemos poder ir ao ponto final do universo carregando a desesperadora certeza de jamais ver outra pessoa senão insuportaveis pedaços de nós emanados de nossas, digamos, auras.
Então eu sei para quê ouvimos nossa própria respiração.
bonito de um hermetismo que a gente não entende, mas sabe que gostou. =)
ResponderExcluirTalvez seja exatamente sobre o que se acha q é. =)
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