domingo, 20 de março de 2011

Tantas e até mais

Sabes que tentasse eu fazer mais
ou talvez pensasse ser capaz
vejo, então, agora,
que jamais verá o que aprendi porque nunca irás mudar
é besteira, é bobagem
mera fixação
que se vá então ou voltemos pelo santo tempo que perdi ou que acertei
em você. Eu não quero mais lembrar que um dia eu te quis e te tive eu deixei passar.

Quis tantas e até mais
de umas e minha paz e outras que vou ver
Um amor que vale tanto assim
num passeio por desses
veio a aperceber-se carecer de outro coração, ô, ô!

Quanta indiscrição num tolo lamento
Aqui nessa mesa eu não vou mais estar
eu deixo o estandarte do lar, uma flor e uns trocados para o pão
mas levo as canetas, papel de cartas e um corte no coração.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Das metáforas

Agora eu ficaria incomodado se uma porta batesse atrás de mim. As metáforas com portas batem fortes demais. Assim são as bocas, os espelhos e os caminhos.

quinta-feira, 17 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Papercut

Por mais coisas escritas que possam ter todos os livros que mantenho encerrados nas torres e masmorras do meu armário, me pergunto se eles ainda têm o que conversar entre si. Não fosse um possível e provável mofo, eu me sentiria confortável de estar em silêncio entre velhos companheiros, mas nem todas as formas de vida são tão inativas quanto eu. Melhor libertá-los.

terça-feira, 15 de março de 2011

Tanto faz (a first pop song)

Uns passos por aqui
custam passos a mais que devo dar
pra não ficar sabendo o que se passa no meu lugar.

pra não saber o que eu ia sentir

poucos motivos vão
bastando pra deixar a ilusão
de que eu ainda posso entrar ali naquele coração

ah, se o tempo quisesse dar pra mim um pouco de razão
e me deixasse voltar.

Eu não vou mais viver
esperando encontrar felicidade
partido, o coração
eu parto pra te amar noutra cidade

E que horas tua janela apaga a luz
vou dizer
que tanto faz

segunda-feira, 14 de março de 2011

Como se houvessem paredes

Por entre flashes de luz e sombra eu brinco de imaginar o que alguém veria no meu quarto agora, ou o que eu veria de relance no espelho. E brincar de imaginar é tudo que faço por querer. Porque não é por vontade nem falta dela que alguma coisa que eu ainda chamo de espírito dança aqui por entre essas quatro paredes, ao lado, por cima e embaixo dessa cama, dentro dessa escuridão, fugindo desses flashes, espalhando inutilmente essas infinitamente densas sombras. Eu sei para quê fechamos os olhos.

Então dance como se não soubesse, seja lá o que for, como se eu não me importasse.

Mas brincar de imaginar é tudo o que posso fazer, porque por mais que minha pele esteja cobrindo muito mais que meu corpo, eu não sinto o toque de nada além de um vento sem direção e de uma música que se espalha sem fonte, sem limite, sem um corpo. E eu sei porque apagamos a luz.

Então suba pelas paredes, sem forma, como se houvessem paredes.

Eu já tive medo do que nos acompanha quando nos perdemos sozinhos. Eu já tive medo de me perder. Tudo é tão despreparado para não ter um par que parecemos - e digo isso na mais absoluta incerteza que teimo em dar a tudo - nos dividir, quando, num quarto escuro, parecemos poder ir ao ponto final do universo carregando a desesperadora certeza de jamais ver outra pessoa senão insuportaveis pedaços de nós emanados de nossas, digamos, auras.

Então eu sei para quê ouvimos nossa própria respiração.

domingo, 13 de março de 2011