sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tunic (for aki)

Sonhando. Sonhando com a garota que acredito ser. Andando pelas ruas, encarando os negros, os velhos, executivos. Sonho com a imagem que tenho de mim mesma e quão impressionantemente comum ela pode parecer aos outros.
Sonhando. Sonhando sobre como eu deveria ser se tivesse feito todas as coisas certas desde que meus pais me trouxeram do hospital. Se não tivesse levado aquela queda, não tivesse estourado aquela espinha, não tivesse realizado aquela vingança. Sinto como se pudesse ignorar o mundo.
Mas quando me olho no espelho, sou menor de todas as formas.
'Venha com a gente', ele disse, 'cante com a gente.' E então eu abro meus olhos e eles me alimentam e por mais que eu não goste daqui, não há outro lugar para estar.'Beba' ele disse e eu bebi, de novo e de novo, 'dance' ele disse, e como se a música não acabasse, eu dancei. E são nesses dias eu tenho acordado como quem morreu na noite anterior. 'trabalhe', e eu trabalhei. 'coma', 'corra', 'compre', 'ame', 'inveje' e eu me abandonei - alô? oi? Tente desligar e ligar de novo. alô? Pois não. Vou lhe transferir para o outro setor. alô? sim? não, a Lara não está, não das 6 da manhã até as dezoito horas. Ela está abandonada.'Venha' ele diz, e eu vou. Percebo meus olhos abertos. Vou, canto, bebo e danço e morro todo dia.
Mas quando consigo acordar, eu sonho. Sou mais viva de todas as formas.
Como e atendo todas as ligações. Sinto como se desaparecesse. Espero na luz vermelha e sigo na luz verde, não por medo de morrer, mas porque é assim que funciona.
Corro e rabisco um horror nas costas de algum documento para poder passar por tudo isso e naquele dia faltaram papéis. Foi pesado demais. Grite, eu me disse e eu gritei. E quando percebi os meus olhos abertos, vi outros olhos de todas as formas. Eu corri, chorei e estraguei meu esmalte vermelho quando abri essas linhas nos meus braços. Eu sei que não importaria pra onde fosse o ônibus que eu pegasse. Eu apenas paguei a passagem e passei.

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