terça-feira, 25 de maio de 2010

Uma curta jornada noite adentro.

Que grande porcaria essa vida, seria melhor ter nascido uma noite clara, ainda que só durasse a embriaguez e os assassinatos e as estórias de amor lunar que lhe coubessem, poderia ter a sorte de cobrir um tango improvisado numa pracinha deserta.
Sentava no banco da calçada olhando a copa das árvores e lembrando que cada balanço de galho era uma fotografia a ser seguida por outra e que aquilo tudo era só poesia. Retórica, literariedade.
Ainda que explique toda essa lentidão. Porque a máquina fotográfica da existência não deve ser digital e não havia acelerado um segundo só desde que fizera treze anos, depois de poupar o coração do primeiro e suposto não e jogar a primeira semente de arrependimento no azulejo do quarto, ela floresceu. O sol nascia e se punha na mesma velocidade e as sakuras do japão saíam e voltavam para o mesmo eixo no mesmo horário. Eram os satélites que chacoalhavam as pessoas numa velocidade de vidas por segundo.
Não havia grãos para jogar aos pombos, nem havia pombos. Apenas olhares para jogar aos carros. Tentava e tentava ocupar as mãos vazias com alguma coisa da cabeça cheia. Não dava. Tateava o chão com os pés como que perdesse a certeza de que pelo menos o chão continuava firme. Não se concentrava em si pois haviam muitos pés e vozes ruidosas ao redor, também não se concentrava nelas. Esqueceu porque estava ali e deu-se por satisfeito. Pegou uma onda de rádio de volta pra casa e desligou a luz.

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