"Eu posso dividir meu segredo com você se disser em qual das minhas mãos ele está.
Qual dessas duas mãos sempre tão cheias de dedos, que dedilham fios de cabelo e fios de navalha.
Que sangram sempre o mesmo sangue e tocam sempre os mesmos acordes.
O mesmo arpejo que resume a vida"
E ficou perdida por entre palavras e significados, segredos próprios e alheios, o absurdo, como se pode brincar assim com aquilo que podia haver de mais frágil e perigoso dentro de um coração? Por um instante, pode sentir-se tomar formas de revolta, angústia e indignação. Por não ter mais corpo, se esculpia de tudo o que sentia, tinha agora o desenho do abraço entre agonia e incerteza. Pela primeira vez em muito tempo, esqueceu-se do seu posto de guarda, seu lugar cultivado naquela existência. E se fosse tarde? Tropeçou pelo ar até o quarto e o jovem rapaz tocava sua mancha, tarde demais, nada a fazer, era o fim. Ele acariciou a parede e olhou ao redor e por segundos eternamente turvos, pareceu fitá-la. Levantou-se. O que faria? O que ele faria? E depois disso o que ela faria? O que fazer? O que esperar? Tintas, ele tinha tintas, ele iria pintar sua parede, seu espaço, sua lembrança, amarelo sobre seus sentimentos e tudo teria um fim, ela teria que descansar em paz afinal, já podia sentir-se afogar dentro da lata de sem cheiro e de secagem rápida, acabaria assim então.Com o pincel, o jovem escritor desenhou com cuidado um pequeno abrigo circular para a pequena mancha e suas miúdas letras, depois um círculo maior, ao redor de tudo isso. Boquiaberta, ela assistia, como quem assiste a própria morte (pela segunda vez). O círculo maior foi contornado com uma fina linha branca na parede verde, e preenchido de laranja, mantendo sempre a salvo a pequena mancha dentro de suas fronteiras arredondadas. Eram os requintes de crueldade. E com o pincel mais fino, o jovem escreveu com olhos concentrados ao redor do círculo menor:
...Been everywhere, but there.
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