terça-feira, 22 de junho de 2010

Santa, santa, santa.

Logo de manhã o sol é uma imensa faixa clara, quente e agressiva através dos olhos e das lentes UVA e UVB, reflexos e vultos reluzentes de bocas e pernas e tênis e rodas e fios de cabelo e telefone, buracos, tropeços, monstros e outdoors amassados de lingeries. Pedaços de manhã pela avenida. Não é o que se vê, é o que se ouve nos motores dos ônibus e dos carros e no assar das peles e do asfalto na margem da avenida. Tanta, tanta, tanta, tanta, tanta gente e nenhuma voz humana. Se algo corta de repente seu ouvido antes que desmaie: Um celular, e tudo volta a mais barulhenta e angustiante normalidade da margem da vida urbana. Correu alguém, menina, all-stars, mochila adidas pesada e gasta, calça jeans colada e camiseta de farda colegial. Em seu quarto ela joga os livros como se livrasse de uma imensa pedra que quase racha o azulejo do apartamento, liga o ventilador e deita na cama para tornar-se o que há de mais culpado e invejado dentre as almas operadoras de telemarketing e representantes de vendas. Santificada, fecha os olhos e os ouvidos com um lençol, libertando-se de todo e qualquer mal, santa maria dessa manhã, a ti devemos a esperança de voltarmos para nossas famílias, sãos, salvos e exaustos. Façamos hoje uma oração antes que o sol e o motor derreta nossa fé e amemos essa imagem quando o ônibus nos levar dessa vida.

2 comentários:

  1. aí alguém sai aos farrapos, pq sempre alguém vai sair aos farrapos...

    hey, que texto maaaassa! amei.

    beeeeijo, igowtow.

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